quarta-feira, 15 de setembro de 2010


Se seus escritos seriam um dia encontrados? Matias não queria nem saber! A valer o discurso do tio nas reuniões familiares ele devia era encontrar um rumo de macho!Mas parecia mesmo o inviolável o direito a que se reservara: o de discutir com o papel as tolices que inquietavam suas mãos adolescentes. Quando na escola ele persevarava a alfabetizar-se , os dedos finos pegavam no lápis (emprestado) de forma desajeitada...A generosidade da freirinha da escola - ali para desacreditar na desigualdade - quase sucumbia à falta de ternura de Matias. Asqueroso e calado. A mãe de Matias, feliz porque "descobriu" que a fé a fizera vencer tantos desenrolos, costurou o rasgado insistente da camisa ( a única com mangas do filho mais velho) por três vezes...
-Deus que me perdoe mas, meu filho, que tanto você estica esse braço que essa camisa rasga no mesmo lugar aqui debaixo do braço? Matias não respondia não. Mas na mesma horinha da pergunta ele imaginava as respostas!Tudinho ali na cabecinha que todo mundo dizia ser oca, podia ser um pé de manga alto e a tentativa de pegar uma fruta num galho. Ou ainda, a linha de saco que foi usada para a costura era tão fraca que quando levantava a mão para se fazer presente na hora da chamada na escola, arrebentava...ele quase ria disso. E, a verdade, inimaginável: um pedaço de papel roxo que ficava na última prateleira da estante da Freirinha Luiza! Aquele papel trazia a Matias tantos devaneios! Mas era arriscado pedir! A professora nunca pegava daquele papel.
- "Já pensou se eu pedir? O que ela vai dizer se asqueroso Matias quisesse a ternura do papel roxo?"
Matias só tentava pegar para ter a sensação de quase conseguir! Ele sabia que ninguém o veria, mas, no fundo, se achava tão asqueroso que temia não se dar com aquela cor de perto. Nunca pegou. Mas, adolescente, se compadece de si por ter tentado tanto.

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